Vemos o tempo todo as pessoas tratando seus cachorrinhos como gente. São seus “filhos”, são mimados e, muitas vezes, têm uma vida que a grande maioria dos seres humanos não tem.
Isso não é problema, óbvio. Quem tem um, ou mais, bichinho de estimação, e gosta de verdade dele, não vai poupar esforços para lhe proporcionar uma existência feliz e satisfeita.
No entanto, às vezes exageramos muito na dose. E o resultado é a criação de animais expostos às loucuras dos seres humanos, convivendo em ambientes que, embora cheios de carinho, não são os mais apropriados.
A grande diferença entre os bichos e os seres humanos é a honestidade irrestrita daqueles, em contrapartida com a “politicagem” destes. Mas se justamente essa característica dos animais é a sua grande qualidade, por que iríamos querer igualá-los aos homens?
Pode parecer difícil de acreditar, mas a longa convivência com as pessoas e, principalmente, o fato de serem tratados como gente, pode fazer alguns cachorros desenvolverem características humanas.
Dessa forma, ao tratar seu cachorrinho como “filho” e mimá-lo o tempo todo, deixando que ele tenha a última palavra (ou latido) na sua casa, você pode estar exagerando na dose.
Cães são animais de matilha. Sempre que os tratamos como bebês nós os impedimos de agirem de acordo com sua natureza.
Conforme já estudado por vários pesquisadores, e já de conhecimento popular, como membro de um grupo, o animalzinho precisa de uma liderança. Esse posto normalmente é ocupado pelo seu dono.
Porém, se este não se comporta como líder, o cão se sente deslocado, e acredita que é seu dever proporcionar a liderança à matilha.
Dessa forma, é o cachorro que adestra o dono, e não o inverso.
Como a família sinaliza seu comportamento de forma confusa, às vezes parecendo que ele é o líder, às vezes aparentando estar descontente com suas atitudes, o cachorro acaba ficando desgostoso e estressado.
Estresse é tipicamente uma doença humana. No entanto, aumenta cada vez mais o número de cachorros que têm sido tratados com medicamentos, florais, etc, por estarem desenvolvendo doenças humanas, como depressão, ansiedade e paranoia.
Em alguns casos, ficam confusos e perdidos, pois não sabem mais qual seu lugar na família.
Cachorros agitados, com insônia, irritados, são comuns hoje em dia.
Cães que parecem incomodados e que não desenvolvem seu lado divertido, como se nunca tivessem aprendido a brincar, multiplicam-se pelas ruas das cidades.
Assim como alguns pais “estragam” seus filhos, alguns donos de cães os mimam tanto que o resultado é um animalzinho feroz, birrento, incapaz de se controlar e ser controlado, às vezes odiando qualquer pessoa ou outra espécie de animal que se aproxime da família.
E isso não é normal em uma criatura sociável como um cão.
Ao humanizar o cachorrinho, as pessoas perdem duas vezes. Primeiro, porque deixam de aproveitar tudo o que vale a pena em um bichinho de estimação, isto é, o fato dele não ser humano; depois, por fazerem com que seus pets percam a identidade, passando a inexistirem como companheiros.
A situação piora se pensarmos na alimentação que esses cãezinhos supermimados consomem. Alguns donos simplesmente não sabem dizer não para seu pet, e o resultado acaba sendo conhecido: obesidade canina, diabetes e outros males tipicamente humanos.
Expor seu animalzinho a esses riscos é demonstrar pouco apego à criaturinha.
A coisa fica mais séria quando pensamos nos “mimos” que são dispensados a eles. Alguns cachorros passam o ano inteiro vestindo roupas, apenas porque seus donos os acham bonitos daquele jeito.
Nada a ver com acessórios úteis, que resguardam e servem de agasalho e proteção, como roupas para frio e botinhas protetoras.
Estamos falando dos excessos de roupas, que deixam os cachorros desconfortáveis e irritados, forçando-os a comportamentos artificiais.
Alguns itens são pesados e, quando os animais são forçados a vestirem durante muito tempo, são obrigados a modificar a postura, sofrendo dores de coluna (algo tipicamente humano) e desconforto.
Além disso, muitas vezes o bichinho veste roupas pesadas e quentes em estações do ano que não são as indicadas para aqueles vestuários. Isso pode provocar até desidratação, fraqueza e irritação.
Acreditamos que cães deveriam ser sempre tratados como cachorros. Deveriam ter o direito de viver com disciplina e ordem, e ter sua natureza respeitada.
Dessa forma, continuariam sendo as criaturas que escolhemos como companheiros, há centenas de milhares de anos, quando o primeiro cachorro foi domesticado.