Seu Bicho Sem Crise de Identidade

Quem tem cachorro ou gato vê o bichinho como companheiro para dividir a casa e a vida. Mas será que os pets olham para seus donos e para o mundo da mesma maneira? O UOL conversou com alguns especialistas em comportamento animal atrás desta resposta. Veja o que eles disseram e deixe a sua opinião nos comentários.

Fontes: Cláudia Pizzolatto, psicóloga canina e especialista em comportamento animal; Dra. Fernanda Fragata, médica-veterinária e diretora do Hospital Veterinário Sena Madureira; Dra. Paula Bastos, professora do curso de Medicina Veterinária do Complexo Educacional FMU; e Renato Zanetti, zootecnista e especialista em bem-estar animal.

Chefe da matilha

Cachorros e gatos diferem muito entre si no modo como percebem o mundo ao redor. Por muito tempo, se acreditou que os cães viam seus donos como líderes, mas nos últimos anos tal teoria passou a ser questionada. Há uma corrente de veterinários e adestradores que defende que cachorros domesticados vivem de forma participativa com os membros de seu grupo. Ou seja, a cachorrada não percebe seus donos como chefes da matilha, mas como indivíduos com quem têm relações de carinho e respeito.

Sentimentos reservados

Ao contrário do que se diz por aí, os gatos não veem o homem como presa, muito menos como predador. “Para eles somos uma espécie neutra e provedora de alimento, abrigo e proteção. Mas isso não quer dizer que os felinos não tenham afeto por seus humanos. Os gatos reconhecem e gostam muito de seus cuidadores, apenas não demonstram da mesma forma que os cães”, comenta a especialista em comportamento animal Cláudia Pizzolatto. Para John Bradshaw, professor da Universidade de Bristol, no Reino Unido, felinos domésticos identificam seus donos como mães-substitutas ou como gatos, só que maiores, não hostis e menos graciosos. Bradshaw é autor dos livros “Cão Senso” e “Cat Sense”, este ainda sem versão em português.

Sem crise de identidade

Para os cães, seus donos são parte do convívio social, mas não há uma identificação do humano como um “cão menos canino”. A domesticação há milhares de anos (um estudo publicado na revista Science, em 2013, aponta que a transição entre lobo selvagem e cão doméstico teve lugar na Europa há, no mínimo, 18.800 anos) e a convivência estreita com as pessoas não alteram a percepção que esses animais têm sobre a distinção entre as espécies, afirma o zootecnista e especialista em bem-estar animal Renato Zanetti.

Está na cara

O cão tem uma face muito expressiva, mais próxima da expressão humana. Talvez por isso, seja mais fácil a comunicação entre cachorros e pessoas. Já os gatos não apresentam muitos sinais faciais, daí a dificuldade que os homens têm para perceber a maioria dos códigos corporais ou olfatório que os gatos expressam.

50 tons de cinza

A forma como os animais domésticos percebem o mundo tem relação direta com o funcionamento da visão. Os cães enxergam melhor as coisas que estão longe do que as que estão muito próximas. Eles conseguem ver cores, embora não tão vívidas quanto as vistas por um humano, e têm dificuldade em diferenciar o verde do vermelho (que mais se parecem tons de cinza). Os gatos enxergam melhor de perto e não são bons em distinguir matizes. “Mas isto não chega a ser um problema, pois felinos são eficazes em ambientes com baixa luminosidade e craques em identificar movimentos”, diz o zootecnista Renato Zanetti.

Olfato campeão

Cães e gatos não conseguem distinguir objetos iguais de cores diferentes, ao contrário dos humanos, que podem, por exemplo, organizar um guarda-roupa separando as peças por tonalidade. Em contrapartida, têm o olfato apurado. Enquanto cachorros e gatos têm entre 120 e 300 milhões de células olfativas no nariz, os homens contam com apenas 6 milhões. “Os cães conseguem separar os odores da rua da mesma forma que pessoas escolhem o que vão vestir”, compara o zootecnista Renato Zanetti.

Nada gourmet

Se o olfato é um sentido valioso para cães e gatos, o mesmo não se pode dizer do paladar. Os humanos possuem cerca de 9 mil papilas gustativas em suas bocas. Os felinos domésticos têm apenas 470 e os cachorros, aproximadamente, 1.700. Mesmo assim, é possível afirmar que gatos, de modo geral, preferem os alimentos salgados aos doces, enquanto os cães são mais tolerantes a diferentes sabores com exceção dos azedos. Justamente por isso são mais suscetíveis a problemas relacionados à “imprudência alimentar”, afirma a médica-veterinária Fernanda Fragata, comendo quase tudo o que veem pela frente.

Espelho, espelho meu

Cães e gatos não são capazes de reconhecer sua própria imagem refletida em um espelho. Filhotes tendem a ficar intrigados com o reflexo e reagem como se houvesse outro filhote ali. “Quando amadurecem, cachorros e felinos perdem o interesse pela imagem, uma vez que o olfato começa a ser mais importante do que a visão”, explica a especialista em comportamento canino Cláudia Pizzolatto. De modo diverso ao que ocorre com os humanos, o mundo de um cão ou de um gato não se cria prioritariamente com imagens e, sim, com sons e cheiros.

Fonte: Dourados Agora

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